Sim, sim! Isso é sentimento de verdade! É sincero aquilo
que você sente no limiar de “Hoje”, faixa que encerra
este bonito álbum. O que seus ouvidos escutam é um belo
apanhado de canções criadas por pessoas que se colocaram
dentro das músicas, interpretando-as com a alma e sentimento,
gerando letras que correspondem aos seus anseios naturais
momentâneos e arranjos que exploram a qualidade e versatilidade
dos músicos.
Nacional, nome do segundo disco dos mineiros do Transmissor, mostra uma
banda inspirada e ainda mais unida, dando mais espaço para
composições coletivas. Jennifer Souza ganhou mais
destaque com sua voz doce, servindo como interlocutora entre o ouvinte
e o cantor em quase todas as faixas, mesmo quando faz apenas
acompanhamento no fundo. Os arranjos passaram a ter guias fundamentais
baseadas nos teclados, xilofones, metalofones e piano -- sem contar o
adicional luxuoso de instrumentos de sopro em algumas faixas. Todo o
processo foi levado como quem cuida de um filho e essa beleza e cuidado
fica expresso logo na primeira ouvida no disco.
Jennifer se superou nas composições, com letras mais
duras e trocando saudades por despedidas, assim como Thiago Correa
canta na já citada “Hoje”. Thiago, alias, divide a
composição de “Traz o Sol Pro Meu Lado da
Rua” com a lenda Vander Lee, criando para o álbum uma
canção legitimamente folk, ainda que recheada por
xilofones e violinos, mas guiada pelo bom e velho violão.
Não negando as influências, a versão de “Nada
Será Como Antes” -- parceria de Milton Nascimento com
Ronaldo Bastos que figurou no primeiro disco do Clube da Esquina --
ganha guitarra e bateria mais pesada, meio que atualizando a
música para os tempos atuais. Os vocais dobrados de Thiago e
Jennifer traduzem a mensagem que a música passa, como se fosse o
pensamento de um casal, ‘cada um ao seu canto’ -- e esse
é um artifício que a banda usa magistralmente desde o
disco de estreia, colocando backvocals em momentos que a letra se
direciona para um casal, como uma resposta a cada frase dita.
“Dois Dias”, “Bonina” e “Só se For
Domingo” são a linha de frente do álbum:
canções fáceis, altamente assobiáveis,
feitas para aproximar o público e fazê-lo se encaixar no
álbum, como um abre alas para um belo desfile de músicas
apaixonantes.
A grande dica para este disco é não tentar procurar um
novo Sociedade do Crivo Mutuo e sim enxergar uma banda mais
democrática, mais unida, com ideias fluindo de todos os lados.
Além disso, as faixas funcionam muito melhor se você
ouvi-las com sua própria ordem ou em separado, prestando
bastante atenção nos detalhes mínimos que a banda
se propõe a fazer -- “Dessa Vez”, “Longe
Daqui” e “Outra Ela” são bons exemplos de
músicas que deve-se escutar em separado.
Nacional é um bonito álbum feito para pessoas de
coração aberto, ferido ou vazio. Relacionamentos
terminam, mas a música sempre fica para nos contar uma nova
história de amor, até o fim ou até a
próxima faixa
Por Marcos Xi
Faixas
01 – Sempre – Henrique Matheus
02 – Dessa Vez – Thiago Corrêa
03 – Dois Dias – Leonardo Marques
04 – Bonina – Jennifer Souza, Leonardo Marques e Ludmila Fonseca
05 – Só Se For Domingo – Leonardo Marques
06 – Vazio – Thiago Corrêa e Helder Lima
07 – Outra Ela – Jennifer Souza
08 – Traz o Sol Pro Meu Lado da Rua – Thiago Corrêa e Vander Lee
09 – Nada Será Como Antes – Milton Nascimento e Ronaldo Bastos
10 – Longe Daqui – Leonardo Marques e Jennifer Souza
11 – Hoje – Thiago Corrêa e Leonardo Marques
10:22