Boa noite, Sempre correndo, aqui vou eu, aproveitando a brecha…
Hoje eu estou trazendo um
disco que há muito já devia estar postado aqui. Comprei este álbum
(duplo!) numa banca de saldão, em Sampa, logo que foi lançado. Acho que
na época, o vendedor nem percebeu isso e liberou a bolacha por uma
bagatela. Mas, assim como veio barato para mim, também acabei o vendendo
nas mesmas condições. Só me arrependi de não ter feito uma cópia.
Porém, mais uma vez, ele volta às minhas mãos, graças à colaboração de
um amigo.
“Elas Por Ela” foi um
musical idealizado, dirigido e interpretado por Marília Pêra, no início
dos anos 90. Fez muito sucesso na época, a ponto de merecer o registro
em disco da EMI e depois ainda, inspirar uma nova versão num especial da
Rede Globo. Neste trabalho, Marília Pêra não interpreta canções, mas
sim os cantores, ou melhor dizendo, as cantoras. Sempre muito afinada,
ela encarna algumas de nossas maiores cantoras, em temas consagrados. O
espetáculo é bem ‘família’, inclusive para a Marília que conta com a
participação de boa parte da sua. Filhos, sobrinha, irmão, maridos…
todos empenhados e com muita responsabilidade.
Eu havia pensado em separar
cada uma das músicas do álbum, mas preguiçosamente achei melhor manter a
sequência linear, conforme nos é apresentado, sem pausas. Talvez num
outro momento eu faça a separação. Por hora, eu quero mesmo é chocolate!
Vão daí que eu vou daqui… 😉
a louca chegou
tem francesa no morro
texto de aracy cortes e j, maia
linda flor
pedacinhos do céu
século do progresso
camisa amarela
chica chica bum chica
mulher exigente
loura ou morena
texto de dalva de oliveira
mensagem
orgulho
que será (abajur lilás)
teus ciúmes
parabéns pra você
aves daninhas
vingança
duro nega!
beija-me
texto de eneida
ô abre alas
primeira bateria
o teu cabelo não nega
funga funga
pó de mico
evocação
coisinha do pai
lata dágua
vai com jeito
perigosa
a flor e o espinho
se queres saber
onde está você
demais
morrer de amor
fim de caso
vai, vai mesmo
amendoim torradinho
casaco marrom
túnel do amor
pare o casamento
opinião
mamãe coragem
texto caetano veloso
sonho meu
clementina, cadeê você
marinheiro só
juízo final
aquarela do brasil
texto andré valle
seguidilla
têmpera
Marília Pera E Grande Otelo – A Noiva Do Condutor – Opereta Inédita De Noel Rosa (1985)
A Eldorado, gravadora pertencente ao jornal “O Estado de S. Paulo”,
deixou um acervo importantíssimo para quem estuda, pesquisa e aprecia a
música popular brasileira. Foi fundada em janeiro de 1972, sendo a
pioneira na utilização de equipamentos de gravação em 16 canais (até
então apenas dois estúdios no Brasil tinham equipamentos para 8 canais),
causando uma autêntica revolução em nosso mercado fonográfico. De
início, era apenas estúdio de gravação, alugado por gravadoras para
produção de discos de artistas do porte de Roberto Carlos, Rita Lee, Tim
Maia e Hermeto Paschoal, só para citar alguns.
Em 1977, a Eldorado passa a lançar seus próprios trabalhos em
disco, sendo o primeiro deles o álbum “Revendo com a flauta os bons
tempos do chorinho”, do flautista Carlos Poyares. A partir daí, muitos
artistas, das mais variadas tendências musicais, passariam pela
gravadora, entre eles Daniela Mercury (que lançou seu primeiro álbum por
esse selo), Nélson Sargento, Mônica Salmaso, Banda Mantiqueira, Raul
Seixas, Zimbo Trio, o violonista Yamandú Costa, e até bandas de rock
pesado, como Angra e Viper. Duramente atingida pela crise no mercado
fonográfico, tanto no Brasil como no mundo, a Eldorado deixou de operar
em fevereiro de 2004, voltando a funcionar em agosto do ano seguinte e
encerrando definitivamente suas atividades em 2008.
Agora, o oferece a seus amigos, e associados,
um dos mais expressivos trabalhos da Eldorado: a gravação, na íntegra,
de uma opereta inédita de Noel Rosa (1910-1937), “A noiva do condutor”.
Foi composta em 1935, época em que a Rádio Clube do Brasil, onde Noel
trabalhava, apresentava o programa “Como se as óperas célebres do mundo
houvessem nascido aqui no Rio”. Noel fez três: “O barbeiro de Niterói”
(paródia ao “Barbeiro de Sevilha”, de Rossini), “Ladrão de galinha”,
apresentando paródias de músicas de sucesso na época, e finalmente esta
“Noiva do condutor”, em parceria com o maestro Arnold Gluckmann, alemão
radicado no Brasil.
Este trabalho, gravado em novembro de 1985 e lançado em abril
de 86, é fruto de um esforço arqueológico dos pesquisadores João Máximo
e Carlos Didier, iniciado em 1983 com outro álbum da mesma Eldorado,
“Noel Rosa inédito e desconhecido”, com o Conjunto Coisas Nossas. Foram
escalados para a gravação desta opereta inédita do Poeta da Vila dois
artistas versáteis: Marília Pêra, carioca da gema (n.1943), ainda hoje
em franca atividade, e Grande Otelo (Sebastião Bernardes de Souza Prata,
Uberlândia, MG, 1915-Paris, França, 1993). O bonde é a peça-chave do
enredo, que começa no bairro carioca de Cascadura. Helena (Marília Pêra)
ama Joaquim (interpretado por Carlos Didier), que se declara
reservista, vacinado e advogado. Como de praxe nos anos 1930, o dr.
Henrique (Grande Otelo), a princípio estrila, mas depois consente no
namoro, assim encerrando o primeiro ato. Mas, no segundo ato, Helena
descobre, horrorizada, que Joaquim é condutor de bonde, e rompe com o
cara, não quer saber mais dele, que implora pelo reatamento, mas o dr.
Henrique também se desentende com ele. Quem irá salvar o romance é o pai
de Joaquim, um rico banqueiro chamado Jota Barbosa, aqui interpretado
por Oscar Bolão, que também atua como baterista e pandeirista neste
disco (como vocês veem, nessa época já havia conflito de gerações, e
Joaquim tinha virado condutor de bonde para contrariá-lo).
É toda essa história que se desenrola neste trabalho, de inegável
valor histórico, com arranjos a cargo do cavaquinista Henrique Cazes e
do tecladista Aloísio Didier, que, claro, também participam como
músicos. “Cansei de implorar” é uma paródia de ‘Cansei de pedir”, samba
do próprio Noel lançado por Aracy de Almeida em 1935. “Tipo
zero”, samba de 1934, foi gravado vinte anos depois por Marília Batista
e, para esta opereta, Noel retocou a segunda parte e lhe acrescentou uma
nova estrofe. E tudo, claro, acaba num “Finaleto” em que os quatro
personagens cantam: “Viva Deus e chova arroz!”, alusão ao costume de se
jogar arroz nos noivos recém-casados à saída da igreja, após a cerimônia
matrimonial, tradição esta originária da China, há mais de dois mil
anos (o arroz é simbolo de fartura).
Choque de gerações, oposição rico-pobre, preconceito contra uma
profissão sem status social, hipocrisia em suas manifestações menos
dignas (note-se o rebuscamento poético da primeira faixa, “Tudo pelo teu
amor”), tudo isso, enfim, está representado neste histórico trabalho
que o tem a honra e o prazer de oferecer a vocês, com a
chancela do inegável talento deste eterno mestre chamado Noel de
Medeiros Rosa!
*Texto de Samuel Machado Filho
Prelúdio
Tudo pelo teu amor
Cansei de implorar
Boas tensães
Para o bem de todos nós
Joaquim condutor
Perdoa esse pecador
Tipo zero
Tudo nos une
Finaleto
.
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