Em uma canção do excelente disco “Bhanda” de
2006, Lô Borges entre breves considerações sobre
calma e pressa cantava: “nosso passado certamente não
detém o tempo que já vem/e vou amando pela vida/minha
receita sempre natural”. Versos certeiros desse mineiro nascido
em 1952 que sempre administrou a vida de maneira espontânea e com
um carinho imenso pela música.
“Horizonte Vertical” lançado no ano passado com
apoio do projeto Natura Musical e distribuição pela Sony
Music, é mais um álbum inerente a opção que
o músico fez a partir de “Um Dia e Meio” de 2003 em
elaborar mais trabalhos com inéditas. Essa opção
se consolidou como um grande acerto e resultou também no
já citado “Bhanda” de 2006 e em
“Harmonia” de 2009.
Com ajuda dos companheiros de banda Barral e Robinson Matos
também na produção, Lô Borges faz com
dedicação aquilo que sabe tão bem. Monta melodias
como se fosse um quebra cabeça minucioso na união com
letras e instrumentos. Mais do que os anteriores, “Horizonte
Vertical” é um disco claro, de bem com a vida e com versos
que buscam tranquilidade e tratam sobre o amor em geral.
São 12 faixas onde se faz presente a parceria constante com
Márcio Borges e Ronaldo Bastos, assim como Samuel Rosa e Nando
Reis na música que intitula o registro. A novidade fica por
conta da esposa Patricia Maês, que colabora em cinco
canções. Além das parcerias anotadas nas letras,
Samuel Rosa, Fernanda Takai e Milton Nascimento abrilhantam estas em
elegantes duelos vocais.
Das participações, Fernanda Takai é a que brilha
mais. Começa em inglês com “On Venus” com
trechos como “on the road, a rolling stone/ i won’t look
back for Dylan” e passa por “Antes do Sol”, uma
belíssima canção sobre otimismo que começou
a ser composta ainda em meados dos anos 80. Depois desembarca na
ensolarada e amorosa “Xananã”, para ainda chegar na
beatle “Quem Me Chama”.
Em “Nenhum Segredo” é a vez de Samuel Rosa aparecer
bem em um rock sessentista onde mostra a exata dimensão que a
obra de Lô Borges tem na carreira do Skank. Já Milton
Nascimento está na afirmação de postura de
“Da Nossa Criação” (“no rastro dos
pedaços dos nossos passos/na imensidão onde se encontra a
chama/que não se apaga da nossa criação”),
assim como na brincadeira de “Mantra Bituca”.
Fora as sociedades (que também se estendem a fantasia da
canção que dá nome ao disco), Lô Borges
resplandece sozinho na paixão arrebatadora de “De Mais
Ninguém”, na balada conduzida com piano e teclados de
“O Seu Olhar”, na viagem do tempo de “Você e
Eu” e no pequeno rock inglês de “Canção
Mais Além”, que com a participação de um
coro de crianças extrapola a descrição de
comovente.
“Horizonte Vertical” é dedicado ao filho Luca e a
geração dele (ele tem 13 anos). É um trabalho que
além de encher o rebento de orgulho, consegue uma proeza rara
nos tempos de hoje, que é emocionar o ouvinte no decorrer de
algumas canções. E pode ser equiparado a discos
clássicos do músico como “Lô Borges” de
1972 e “A Via Láctea” de 1979, o que não
é nada mal para um senhor de 60 anos.
* por Adriano Mello Costa
Faixas
01 - De Mais Ninguém Lô Borges / Ronaldo Bastos)
02 - On Venus (Lô Borges / Ronaldo Bastos) Convidado: Fernanda Takai
03 - Antes do Sol (Lô Borges / Márcio Borges) Convidado: Fernanda Takai
04 - O Seu Olhar (Lô Borges / Patricia Maês)
05 - Horizonte Vertical (Lô Borges / Samuel Rosa / Nando Reis) Convidado: Samuel Rosa
06 - Xananã (Lô Borges / Patricia Maês) Convidado: Fernanda Takai
07 - Da Nossa Criação (Lô Borges / Patricia Maês) Convidado: Milton Nascimento
08 - Nenhum Segredo (Lô Borges / Samuel Rosa / Patricia Maês) Convidado: Samuel Rosa
09 - Mantra Bituca (Lô Borges) Convidado: Milton Nascimento
10 - Quem Me Chama (Lô Borges / Márcio Borges) Convidado: Fernanda Takai
11 - Você e Eu (Lô Borges)
12 - Canção Mais Além (Lô Borges / Patricia Maês)
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