Estranho quem têm observado o trabalho da banda mineira Graveola
e O Lixo Polifônico como algo novo, quiçá
inédito dentro do cenário musical brasileiro. Embora
pareça como uma alternativa recente aos atentos seguidores da
música independente nacional, a banda de Belo Horizonte, Minas
Gerais já vem de uma longa data de apresentações
ao vivo, pequenas e grandes gravações em estúdio.
Entretanto, estranho não observar o grande salto criativo que a
banda (estranho catalogá-los assim) dá em seu mais novo
trabalho, Eu Preciso De Um Liquidificador (2011, Independente), um
projeto que esbanja beleza, experimentos e uma formatação
musical rara e habilmente desenvolvida.
Os mais apressados não tardaram em jogar o grupo –
praticamente uma imensa família de músicos vindos de
distintas vertentes musicais – no mesmo balaio em que artistas
tocados pela “febre Los Hermanos” foram ao longo de uma
década sendo empilhados. Os cruzamentos entre samba, rock e
alguns toques de ritmo latino provavelmente foram os grandes
responsáveis por isso, entretanto, o bloco da Graveola
não está sozinho, muitas mais referências habitam
as suculentas texturas musicais promovidas pelos mineiros, algo que o
novo álbum apenas reforça.
Quem observar atentamente a afinação musical neo-hippie
que se estende por todo o trabalho do grupo – assim como seu
vasto número de integrantes – verá que muito do que
delimita os compostos da banda vão além, muito
além da geração 2000. Por mais que o indie rock
suingado e carregado de referências latinas ainda esteja
lá, é nas inspirações poéticas e
sonoras que entrecortam tanto a Tropicália como os Novos Baianos
de sua melhor fase que o coletivo mineiro encontra seu elemento de
acerto.
Se grandioso é o número de mentes que trabalham por
trás de cada uma das canções que brotam ao longo
do disco, ainda mais diversificado é o conjunto de ritmos, sons
e incontáveis referências que borbulham enquanto se
desenvolve o álbum. Sejam as pequenas transições
pelo Jazz e a Bossa Nova em Canção para um Cão
qualquer e Inverno, o samba em Desenha (lembrando muito os Novos
Baianos do disco Acabou Chorare) ou mesmo todo o clima caliente de
Desmatelado, tudo se representa de maneira vasta, como um grande
passeio por diferentes épocas, estilos e preferências
musicais.
Típico registro que deve agradar em cheio aos arcaicos
apreciadores da velha MPB, em todas as 14 faixas do álbum
é possível encontrar um profundo toque de música
brasileira, algo que se anuncia tanto de forma branda e quase
imperceptível (O Cão e a Ciência), como de maneira
escancarada e adornada em notas verdes e amarelas (Desdenha). Aos pouco
instruídos nesse tipo de som, a trinca de abertura do disco
proporciona o momento mais “rock” do trabalho, com o grupo
moldando boas guitarras e versos que se sustentam em um pop
agradável e nunca descartável.
Talvez aos despreparados o vasto jogo de sons que explodem ao longo do
disco causem certa dose de desconforto, com o ouvinte desnorteado
mediante o plural número de opostos ritmos e tendências
que vão se acumulando dentro de cada faixa. Entretanto, esta
é a lógica do disco, que cresce justamente através
deste amplo conjunto de referências, quebrando assim o
título da obra, afinal, a Graveola não precisa de um
liquidificador como estampa na capa do álbum, já que a
mistura que talvez eles ainda já está pronta desde e a
primeira canção do disco.
Por Cleber Facchi
Faixas:
01 – Blues Via Satélite – Luiz Gabriel Lopes e Marcelo de Podestá
02 – Pra Parar de Vez – Luiz Gabriel Lopes
03 – Desencontro – José Luís Braga
04 – Farewell Love Song (Canção de Sei Lá o
Que Sim) – César Lacerda e Luiz Gabriel Lopes
05 – Desdenha – José Luís Braga e Luiz Gabriel Lopes
06 – Desmantelado – José Luís Braga, Luiz Gabriel Lopes e Marcelo de Podestá
07 – Inverno – Luiz Gabriel Lopes
08 – Nesse Instante Só – José Luís Braga
09 – Lindo Toque – José Luís Braga e Luiz Gabriel Lopes
10 – Rua A – José Luís Braga e Luiz Gabriel Lopes
11 – Canção Para Um Cão Qualquer – Yuri Vellasco e Luísa Rabello
12 – Kg de Pão – Bruno de Oliveira e Luiz Gabriel Lopes
13 – Babulina’s Trip – Luiz Gabriel Lopes
14 – O Cão e a Ciência – José Luís Braga e Luísa Rabello
06:25