"I wanted to sing a jazzy song / But they wouldn't let me do it / Let
me do it, hum, let me do it", suplica, com sua voz quente, Gabriela
Pepino no refrão de Let me Do It, música de autoria da
artista mineira que batiza e abre seu primeiro disco, lançado
pelo selo Ultra Music. Basta ouvir a primorosa gravação
desta composição para não restar dúvidas de
que Gabriela Pepino pede no refrão para fazer o que sabe. Let me
Do It, o álbum, apresenta uma cantora e compositora no
domínio pleno e precoce de sua Arte. Uma intérprete
hábil no canto de temas de jazz (já defendidos por ela em
festivais dedicados ao gênero), blues, soul e pop. Ritmos que
sintetizam as influências musicais desta cantora diplomada na
Escola de Canto Babaya - em Belo Horizonte (MG) - e pós-graduada
na Berklee College of Music, a escola de música mais conceituada
dos Estados Unidos, para onde Gabriela Pepino rumou em 2004, quando
ainda contabilizava 17 anos.
Impressiona em Let me Do It - disco idealizado e produzido pela
própria Gabriela Pepino sob a direção musical do
guitarrista Gilvan de Oliveira, autor dos arranjos - a técnica
da cantora. A maestria com que suinga e atinge as notas com leveza
é típica de veteranos. Contudo, a essa técnica
lapidada na última década, o CD alia o requinte
instrumental da gravação. Músicos como o baterista
Lincoln Cheib, o baixista Adriano Campagnani e o citado Gilvan de
Oliveira fazem a cama para que Gabriela Pepino deite e role no canto
deste repertório soa absolutamente natural em sua voz. "Fiz
neste disco o que eu sempre quis fazer. Eu me preparei muito para
gravá-lo e cheguei pronta, sabendo o que queria. A
influência do jazz, do blues e do soul é natural. Desde
pequena, eu canto em inglês e escuto esses gêneros no meu
cotidiano", frisa Gabriela Pepino.
Sim, a veia norte-americana da artista pulsa em Let me Do It de forma
natural. O uso recorrente de backing-vocals - todos em fina sintonia
com o canto da artista em If I Lived in France, outro tema da lavra de
Gabriela Pepino, que cita na letra símbolos do país que
abriga a Torre Eiffell - evoca a alma da música norteamericana
de outros tempos. Com sua textura orgânica, Let me Do It tem um
clima vintage, reverenciando com frescor o som de outras eras em seu
repertório essencialmente autoral. My Dream Is You, uma das
baladas do disco, exemplifica o apuro dos arranjos - em especial na
disposição das cordas da Orquestra de Cordas Sesi-Minas -
e a pegada pop de algumas faixas. "O pop também é forte
em mim. Mas é pop dos anos 70. Eu deveria ter nascido em outra
época", brinca Gabriela Pepino.
De outra época - e do repertório de um ícone
feminino do universo pop - vem I Don't Wanna Fight, sucesso de Tina
Turner. O tema de Lulu Lawrie (a cantora britânica Lulu, do hit
To Sir, With Love), Billy Lawrie e Steve DuBarry foi gravado pela
cantora em 1993 no álbum What's Love Got to Do with It, trilha
sonora do homônimo filme. Trata-se do último grande
sucesso de Tina, rebobinado com habilidade por Gabriela Pepino, sem
cair na imitação do registro original da música.
Ainda fora da seara autoral que domina Let me Do It, o disco fecha com
Someone to Light Up my Life, versão em inglês de Se Todos
Fossem Iguais a Você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes),
marco inaugural que abriu em 1956 a monumental parceria de Tom com
Vinicius.
A música soberana de Jobim tem seu sotaque universal
realçado por Pepino num disco que dialoga com as
tradições do soul e do rhythm and blues em temas cantados
em inglês como Change e Headache, outras duas inéditas
autorais da artista. Tradições abordadas com um feeling
orgânico, sem os timbres artificiais e mecânicos das
gravações atuais. Mérito potencializado pela
mixagem (capitaneada por Henrique Soares Martins no Ultra
Estúdio, em Belo Horizonte, onde o disco foi gravado de agosto a
outubro de 2011) e pela masterização feita pelo
conceituado engenheiro de som Tom Coyne no Sterling Sound, o não
menos conceituado estúdio de Nova York (EUA). O apuro
técnico na finalização do disco faz com que os
sons e instrumentos estejam bem delineados - são
perceptíveis as linhas do baixo, por exemplo - sem que a voz de
Gabriela Pepino saia jamais do primeiro plano.
É espantosa a naturalidade com que a artista encara um blues
como Dose of Scotch (Gabriela Pepino), como se estivesse ambientada em
um cabaré dos anos 20 ou 30. O senso rítmico da
intérprete também salta aos ouvidos nas
interpretações de músicas como Baby (Gabriela
Pepino) mais uma prova da inspiração e do talento natural
da artista como compositora. A extensão da voz lapidada em aulas
de canto é perceptível nas passagens mais altas da balada
Unexpected (Gabriela Pepino).
Outra balada do repertório autoral, Deepest Shadow (Gabriela
Pepino), chama atenção e se diferencia no disco por
trazer a participação de Marina Machado, cantora cultuada
no universo pop mineiro. O dueto de Marina com Gabriela resulta
harmonioso e valoriza uma canção cheia de vida, pronta
para ganhar as paradas.
Como a iniciação de Gabriela Pepino na música, a
opção por cantar e compor em inglês acabou sendo
natural. "Foi maior do que eu! Essas músicas, que já
venho compondo há quatro anos, foram saindo em inglês e
já chegaram praticamente com melodia e harmonia prontas", relata
Gabriela Pepino.
Em tempos de músicas e cantoras estéreis, programadas
para seguir o ritmo do momento, Let me Do It aplica
injeção de vitalidade e honestidade no mercado viciado.
Gabriela Pepino é uma cantora de verdade que faz música
de verdade. Como nos velhos tempos. A História - e o sucesso da
saudosa Amy Winehouse (1983 ?? 2011) corrobora a tese - tem sido
favorável a quem segue essa trilha retrô com alma. Let
Gabriela Pepino Do It!
*por Mauro Ferreira
Faixas:
01 – Let Me Do it – Gabriela Pepino
02 – If I Lived In France – Gabriela Pepino
03 – My Dream Is You – Gabriela Pepino
04 – Headache – Gabriela Pepino
05 – Dose Of Scotch – Gabriela Pepino
06 – Baby – Gabriela Pepino
07 – I Don’t Wanna Fight – Lulu Lawrie, Billy Lawrie e Steve DuBerry
08 – Unexpected – Gabriela Pepino
09 – Deepest Shadow – Gabriela Pepino
10 – Change – Gabriela Pepino
11 – I Can’t Wait – Gabriela Pepino
12 – My Blues – Gabriela Pepino
13 – Someone To Light Up My Life – Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Gene Lees
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