O saxofonista e compositor Cléber Alves, de 42 anos, recorreu ao
ato de revir (volta, regresso, retorno) para batizar o seu terceiro
disco solo. Viabilizado pela lei estadual de incentivo à
cultura, "Revinda" é o que o próprio músico
classifica de "uma radiografia do seu tempo de volta ao Brasil", depois
de sete anos na Alemanha, quando reencontrou e fez amigos, com os quais
gravou o novo disco. Anteriormente, ele havia feito Temperado (Edition
Musikate) e Saxophonsches Ensemble B (Chez Muziek), os dois de 1998.
Além de composições próprias (Baião
I, Vôo do Motta, Dunas de Itaúnas, De volta a Belo
Horizonte e Rafael), Cléber Alves gravou outras de Juarez
Moreira (Samba pro Toninho e a inédita Choro pro Guinga),
Flávio Henrique (Sete estações), Gilvan de
Oliveira (Samba pro Neném) e Toninho Horta (Cristiana), todos
eles convidados do show de hoje à noite, além de Nivaldo
Ornelas e Chico Amaral.
Da banda que vai acompanhar o saxofonista fazem parte Paulo
Márcio (trompete), André Queiroz (bateria), Ricardo
Fiúza (teclados), Milton Ramos, Kiko Mitre e Enéas Xavier
(contrabaixo) e Clóvis Aguiar (teclados), além de Tiago
Ramos (sax) e Alaércio Martins (trombone), os dois ex-alunos de
Cléber na UFMG.
Recém-saído da escola de música daquela
universidade, na qual deu aula, paralelamente a uma pesquisa sobre
saxofonistas brasileiros do século XX, Cléber Alves
acredita que deverá retornar à UFMG já no ano que
vem, como professor visitante. No momento, está integralmente
dedicado ao lançamento do novo disco. “Trata-se de uma
síntese da minha história musical, incluindo o encontro
com músicos com os quais venho tocando desde que voltei ao
Brasil”, ressalta.
Apesar de ser um saxofonista, Cléber chama atenção
para o fato de a maioria dos músicos com os quais vem
trabalhando ser violonistas. “O violão é muito
forte em Minas Gerais”, justifica, lembrando que, além de
Juarez Moreira, Toninho Horta e Gilvan de Oliveira, Weber Lopes
também participa do disco, na faixa Rafael, que ele compôs
originalmente há mais de 20 anos.
Músicos de gabarito, aliás, não faltam na
gravação, que em Samba pro Toninho, por exemplo, teve o
privilégio de receber o lendário Sérgio Barroso,
que nos anos 1980 dividiu com Luizão Maia os baixos do disco Edu
& Tom – Tom & Edu, de Edu Lobo e Tom Jobim. À
exceção da cantiga de ninar Rafael, com a qual ele
também ganhou o Prêmio BDMG Instrumental em 2003, todo o
repertório autoral de Revinda é inédito.
Segundo Cléber Alves, a passagem pela Alemanha foi proveitosa,
mas como ele é um instrumentista que gosta de somar-se aos
outros, acabou optando por retornar ao Brasil, onde paralelamente
à carreira de solista tem se destacado como músico
acompanhante de instrumentistas como Toninho Horta, Nivaldo Ornelas e
Juarez Moreira, em concertos e estúdios.
"Isto é reciclagem para a minha própria música.
Música é para inteirar, não para isolar", afirma,
salientando a força do movimento instrumental em Minas, onde os
músicos têm a oportunidade de trocar
informações entre si. Em fevereiro, o saxofonista
lança o disco na Europa, onde já está negociando
sua distribuição.
por Ailton Magioli / Estado de Minas
Faixas
01 - Baião (Cléber Alves)
02 - Samba pra Toninho (Juarez Moreira)
03 - Choro pro Guinga (Juarez Moreira)
04 - Vôo do Motta (Cléber Alves)
05 - Dunas de Itaúnas (Cléber Alves)
06 - De Volta a Belo Horizonte (Cléber Alves)
07 - Sete Estações (Flávio Henrique)
08 - Samba do Nenem (Gilvan de Oliveira)
09 - Rafael (Cléber Alves)
10 - Cristiana (Toninho Horta)
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